Cheguei até aqui. De agora em diante, Cuba seguirá seu caminho e eu fico. Divergir é um direito que se encontra e se encontrará inscrito com tinta invisível em todas as declarações de direitos humanos passadas, presentes e futuras. Divergir é um ato irrenunciável de consciência. Pode ser que divergir conduza a traição, mas isso sempre tem que ser demonstrado com provas irrefutáveis. Não acredito que se tenha agido sem deixar margem à duvidas no julgamento recente de onde sairam condenados a penas desproporcionais os cubanos dissidentes. E não se entende, se houve conspiração, porque não foi expulso o encarregado da Seção de Interesses dos EUA em Havana, a outra parte da conspiração.
Agora chegam os fuzilamentos. Sequestrar um barco ou um avião é um crime severamente punível em qualquer país do mundo, mas não se condena a morte os sequestradores, principalmente tendo em conta que não houve vítimas. Cuba não ganhou nenhuma batalha heróica fuzilando esses três homens, mas perdeu minha confiança, quebrou minhas esperanças, traiu meus sonhos. Cheguei até aqui.

* O texto foi publicado no jornal El Pais, de 2003, abril, 14, com tradução para o português por um voluntário do CMI.