CADÊ?

maio 02, 2009

Sem novidades

Transcrevo a coluna de Marta Tajra, no Portal AZ:

salipi_7_lancamento Painel com fotos de Marta Tajra.

Leio, logo existo!

Era uma vez... muito tempo atrás – não, nem muito tempo assim – existiu, no reino do faz de conta, um homem de sobrancelhas espessas e sobrenome esquisito, que ousou declarar, num momento de infinita lucidez, que um país se faz com homens e livros. O país era o Brasil e o homem era Monteiro Lobato. E o resto dessa história todo mundo já sabe.
Lobato pertencia a uma “casta” esquisita de homens que atende, ainda hoje, pela alcunha de escritores. E tal e qual o magricela D. Quixote De La Mancha, personagem imortalizado por Cervantes, gostava de sonhar. Era um utópico, um idealista. Tornou-se com o seu Sítio imaginário, sacis, pica paus e Emílias, o símbolo de uma crença utópica numa nova sociedade brasileira. Isto na década de 30 com quase 100% da população analfabeta.
A utopia é isto, uma forma de esquizofrenia aguda que ataca os seres mais inofensivos do nosso planeta com as idéias e fantasias mais mirabolantes ainda. Esses seres tentam resgatar dentro das estruturas arcaicas existentes, novas formas de viver o presente e de sonhar o futuro.
Pois escrevo esta última frase e me dou conta de uma idéia maluca, revolucionária mesmo, que nasceu nesta chapada dita do Corisco há exatos 7 anos. E o pior, que deu certo. Digo pior, porque tinha tudo para não dar certo. Mas deu. Falo do Salipi, que em português claro significa Salão do Livro do Piauí.
No começo, nada de extraordinário, apenas uma idéia nova que nascia na esteira de um sonho concretizado por um grupo de 4 professores cheios de caraminholas na cabeça. Pois as caraminholas cresceram tanto que o Salão hoje já não cabe mais em si. Tomou dimensões – pasme! internacionais.
O objetivo principal do Salipi é bem simples: promover a cultura, em especial a piauiense, por meio de atividades literárias, artísticas e culturais diversas. Venhamos e convenhamos, é ou não é uma baita de uma utopia? A utopia salipiana quer, em curto prazo, uma coisa bem simples: incentivar a leitura e a formação de novos leitores.
Chega a ser ridícula tal pretensão, de tão modesta que é. Mas esta é a condição para que outros sonhos se desdobrem, culturais, sociais e até – por que não? econômicos. Pois um evento que visa atingir um público alvo de 200 mil pessoas é, no mínimo, um gerador de rendas com retorno garantido para empresários dos diversos setores que fazem parte da cadeia produtiva envolvida no negócio.
Traz também divisas para o estado, pois mexe com o setor hoteleiro e turístico. Além dos palestrantes de fora, o Salipi atrai também um público local dos municípios próximos e até de cidades vizinhas do Maranhão e oeste do Ceará, devido à escassez de eventos culturais desse porte nesses municípios.
Uma série de atividades paralelas se desenvolvem durante a realização do Salipi, que este ano será de 8 a 14 de junho no Complexo Cultural da Praça Pedro II, envolvendo o Teatro 4 de Setembro, o Clube dos Diários, a Central de Artesanato e a própria praça. Portanto, bem no coração da cidade.
Além das palestras e conferências com escritores e jornalistas, o Salipi oferece ainda as oficinas, feiras e lançamentos de livros, o circo das letras (mais voltado para o público infanto juvenil), bate-papos literários, shows musicais, artes plásticas, cinemateca, fóruns temáticos e muito mais atividades que pretendo ir divulgando aqui de hoje até a data do evento.
Alguns nomes que já estão confirmados para o Salipi deste ano: o do jornalista carioca Zuenir Ventura; o escritor cubano Senel Paz, o ensaísta paranaense José Castello, a poetisa angolana Isabel Ferreira, o do poeta Salgado Maranhão, o do professor José de Nicola (SP); escritor Carlos Nejar (RJ) considerado um dos 37 escritores chaves do século e o escritor e jornalista paranaense Laurentino Gomes, autor do conhecido “1808”.
O Salão conta com importantes patrocinadores como o Governo do Estado, a Prefeitura de Teresina e outros. Mas precisa de mais. Precisa, antes de tudo do reconhecimento real destes mesmos órgãos públicos. Parece-me que, governo e prefeitura local, não atentaram ainda para a real dimensão de um evento desse nível, realizado num estado tão carente culturalmente como o nosso.
Em São Luís, bem aí do lado, a prefeitura além de bancar o Salão deles com uma verba de um milhão e duzentos mil reais (sim, foi isso mesmo que você leu), ainda toma posse literalmente do evento, transferindo o gabinete do prefeito para dentro de um dos espaços do Salão.
Para os rotuladores de plantão, pura demagogia. Para os que ainda tem algum neurônio funcionando na cabeça: o maior engajamento e reconhecimento que uma prefeitura pode assumir com a sua cidade, sua população e seu processo cultural, social e econômico.
Afinal, não é com homens e livros que se faz um país?

* * *

Quem gosta de literatura, como eu, vibra, certamente, com a notícia de que o Salão do Livro do Piauí acontecerá também neste ano, e com data já definida: 8 a 14 de junho.

 Mas, confesso, há algo que me incomoda: o patrocínio dos governos do Estado do Piauí e do Município de Teresina ao SALIPI deste ano. Aliás, acho que, de certo tempo para cá, tais patrocínios são desnecessários. Afinal, se o Salão do Livro do Piauí tem tido, merecidamente, sucesso, inclusive comercial, com, por exemplo, a venda de todos os estandes disponibilizados, não estaria pronto para ser bancado unicamente pela Fundação Quixote? Agora, mais do que antes, soam estranhos os patrocínios dos governos estadual e municipal para o SALIPI deste ano! Afinal, dois dos organizadores do Salão são ocupantes de altos cargos nessas administrações: um secretaria a pasta de Comunicação, e o outro preside a Fundação Cultural Monsenhor Chaves.

Concluo, com os patrocínios já anunciados, que a ideia, no campo cultural, no Piauí, deveria ficar apenas em sua formulação: a arca pública agradeceria. E o contribuinte, no mínimo, também.

8 comentários:

Airton Sampaio disse...

Pois é, Leonam. Penso que se o Salipi ficar inteiramente sob a responsabilidade do Estado e do Município não há problema. Mas se for promovido por uma fundação privada, a Fundação Quixote, aí, pelo menos enquanto dois de seus membros integrem confortavelmente certos governos, então a ética se abalança... Afinal, não foi por que existia uma suposta fundação privada no interior do Teatro João Paulo Segundo II que o seu ex-diretor viu-se convidado a deixar o cargo? E agora, no Salipi, isso pode? Ética, senhores, ética! E que venha o Salão, sem necessariamente o José di Nicola, que, à parte a amizade com o rei, não já deu o que tinha de dar? Por Júpiter!

M. de Moura Filho disse...

Compreendi, pelo texto da jornalista Marta Tajra, Airton, que o SALIPI, inclusive porque presentes ao lançamento do Salão os 4 professores, continuará sendo promovido pela Fundação Quixote. O estado do Piauí e o município de Teresina são apenas patrocinadores. E esses patrocínios soam estranhos, sem dúvida.

Airton Sampaio disse...

Estranhíssimos, meu caro. Mas, como na Fazenda Piauí há sempre dois pesos e duas medidas, ai de que questionar essa mistura do público (secretários de governo) com o privado (Fundação Quixote), somente acidamente criticada nos outros. Aliás, dar coordenações a parentes, por exemplo, pode... E o velho e surrado discursão, como é que fica? Abração!

M. de Moura Filho disse...

Airton, a propósito de discursos, os dois administradores públicos, organizadores do SALIPI, não permitirão patrocínios do estado do Piauí e do município de Teresina para o Salão deste ano, né?

Airton Sampaio disse...

Seria o correto, Leonam. Mas duvido que façam isso. Talvez a verba de apoio até aumente. É a velha coisa: os outros não podem tergiversar, mas os que estão acima do bem e do mal... E de novo a pergunta, certamente antipática: que mais uma vez vem fazer aqui no Salipi o José di Nicola, autor, até onde sei, de meros livros didáticos, nada extaordinários? Por Júpiter!!!

M. de Moura Filho disse...

Já tive oportunidade, Airton, de defender neste blog, em postagem de 2008, novembro, 11, que o SALIPI serve aos alunos (vestibulandos). Daí se explica a presença constante José de Nicola no Salão.

Airton Sampaio disse...

Sei disso, mas o que ele ainda tem mesmo a dizer, senão chamar o rei, respeitosamente, de coronel? Abração!

Anônimo disse...

Isso tudo não seria inveja? Despeito?