dedicado aos fumantes da aldeia
Quando, cambaleando, chegou em casa, a noite já se despedia. Apalpou os bolsos à procura de um, não achou. Desolado, exclamou: vício maldito! Maldito ou não, precisava de um imediatamente. Pior é que nas proximidades não encontraria nada aberto. Sem alternativas, uma idéia acendeu-lhe a mente. Transformo-me eu mesmo em um. Riscou o fósforo. Iniciou pela ponta dos dedos dos pés, ainda úmidos, mas já livres dos sapatos e meias, deixados ao longo do corredor. Teve de repetir a operação seguidas vezes. Na terceira, obteve sucesso. Começou então a tragar, consumindo-se em longas baforadas. Quando a brasa atravessou os órgãos genitais, sentiu uma estranha sensação, e gostou. Quis sentir de novo, mas já não era mais possível, a região agora era somente um rastro de cinzas.
Há tempo para tudo, pensou.
Pois não é que quando a brasa consumiu o abdome e começou a se aproximar do tórax, ele, tomado por um impulso vindo não se sabe de onde, resolveu parar de fumar e se apagou.
Tinha pavor de câncer de pulmão.
Conto extraído do blog Confraria Tarântula, veiculado em em abril, 1º.
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