CADÊ?

fevereiro 13, 2011

Tuco*

Foto de autoria não identificada.

Por J. L. Rocha do Nascimento

A natureza não foi generosa. Mas a ele deu ouvidos atentos que, à distância, ajudavam-no a distinguir os diferentes sibilos da serpente. Com os olhos, sempre piscando e girando de um lado a outro, à frente, movimentava-se em silêncio. Fez-se intimo do calor do deserto, provou do veneno do escorpião, e sobreviveu. A dignidade, esta se foi cedo. Do pai, nunca soube. Da mãe, não se recorda do dia em que a viu sóbria. Mas nada disso importa agora. A vida cuidou de fechar-lhe o coração, deixando-o duro como uma rocha. Não fosse pelo ar de desamparo que, quando descuidado, denunciava o sofrimento e a amargura, não seria arriscado dizer que nunca perdia o bom humor. Alguma dor que não tivesse experimentado? Não. Por isso, viver com a corda no pescoço fazia parte do jogo, mesmo quando não houvesse um anjo louro à retaguarda.


* Conto extraído do Confraria Tarântula.

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