CADÊ?

novembro 23, 2009

Entrevista

O blog Volver Notícias, editado por Ana Isabel Freire, Mariana Guimarães e Nina Nunes, veiculou em outubro, 30, entrevista com Quaresma e Thiago E, da Validuaté. Graças à generosidade das editoras, expressada por Ana Isabel Freire, este blog foi autorizado a reproduzi-la. A entrevista, adiante, é ilustrada por fotografias deste blogueiro, recolhidas durante a apresentação da banda na Amostra Cumbuca Cultural, 3ª edição, no sábado, 21:
Volver: As letras de vocês, que são bastante criativas, poéticas. De onde vem tanta inspiração?
DSC_0088 Quaresma: Das múltiplas leituras, que cada um faz e traz pra ser discutido junto com a banda, tudo isso contribui para a gente ir experimentando, criando e inventando. Quer dizer, a gente acha que inventa as coisas, não dá pra saber. Enquanto tiver agradando, surpreendendo as pessoas, ou nos surpreendendo, porque a gente também se surpreende com a recepção das pessoas. Nenhuma música saiu como da forma como a gente já havia planejado, corretamente... A gente sempre coloca como proposta vai acrescentando, isso é uma parte natural...
Volver: É normal que as bandas almejem se destacar no meio, para isso, são utilizadas inovações, particularidades. Qual o diferencial da banda “Validuaté”?
Quaresma: Essa coisa de misturar tudo, não é mais novidade faz é tempo, esse negócio de misturar os estilos, fazer uma releitura, criar uma coisa diferente pra isso. Eu acho que a gente tem conseguido aqui em Teresina, trazer algo temático, um pouco diferente pra música, colocar uma poesia que não seja em defesa da própria poesia. Eu não sei bem explicar, mas acho que também tem a ver com a performance no palco, a gente interage bastante, a gente também se preocupa bastante com a melodia, pra casar com as letras. Na verdade, eu acho que é todo o conjunto dessa nossa pequena obra de poesia.
Volver: De onde surgiu a idéia da música “Superbonder”?
Thiago e: Foi lá pela UFPI, assim que eu entrei, tinha muita discussão sobre pós-modernidade e eu tava meio de saco cheio daquilo ali. As pessoas muito mais preocupadas em um rótulo do que qualquer outra coisa. E eu fiz a música, meio que tirando onda, assim, um samba estilo jingle.
Quaresma: Foi a primeira música que ele me mostrou. Um amigo meu que tava na mesa disse: “Quem é esse maluco”, e eu: “Calma, rapaz!”. (risos)
Volver: A letra da música “a lenda do peixe francês”, além de poética, ela é muito inventiva, metafórica, como é, Thiago, tu sonha com isso e escreve, é? (risos)
Thiago e: Eu levo uma topada e... vai sair... vai sair... Não, é não. Pra compor, a pessoa tem que escrever com freqüência, eu tenho que escrever todo dia. Nem que seja um rabisco, mesmo que eu não tenha nada pra dizer, eu risco a folha. Ai que eu posso dormir. Ai sempre vem uma idéia, ai surge uma comparação. “Ah, eu achei isso interessante, ai você vai e escreve. Essa música surgiu de verdade assim: Eu tava querendo fazer uma música com 4 figuras: um peixe, um abacaxi, um sapo e uma borboleta. Cada um defendendo um ponto de vista da sua vida. Eu comecei a escrever a letra, sabendo que ia ser uma letra de música. Eu tava querendo fazer o encontro das quatro figuras, o sapo e a borboleta pela coisa metamórfica deles, se transformam muito. O abacaxi, porque minha tia disse que o trabalho que dá pra descascar o gosto não paga. Ai eu tava chamando ela de preguiçosa e tal (risos). E eu queria colocar isso, como se fosse o abacaxi falando de si próprio. Enfim, eu ia fazer lá uma loucura, eu tava afim de fazer uma música estranha. Ai eu comecei a fazer a letra e não tava saindo do lugar, ai eu vi que o foco era: o peixe e a borboleta. Eu olhei pra cima, o peixe mora na água e a borboleta no ar, se eles se apaixonarem não vai dar certo... Então vai ser triste e eu: Ará! Vou pra tristeza...
Quaresma: Posso revelar a nacionalidade do peixe?
Volver: Francês, não?
Quaresma: É pra rimar com era uma vez...
Thiago e: Não, mas quando a pessoa pensa em um peixe francês, pensa logo em um ser triste, com um bigodinho, uma paleta de cores na mão e cantando: papilon, papilon... (risos).
Volver: Como foi a composição da música “eu só quero acabar com você”?
DSC_0102 Thiago e:
Era domingo de tarde, tava eu e minha mãe em casa. Eu fui pro quarto fiz a música, quando tava mais ou menos pronta eu mostrei pra mãe: “mãe o que a senhora acha dessa musica aqui?”. Eu mostrei pra ela, ela ouviu e lá tem a frase, “tomara que sempre chova em todas as tuas festas, tomara que tu tropeces em todas as pedras”, e a mamãe: “bota bem aí pra quando ela chegar na parada de ônibus, o ônibus dela passar...” (risos)
Volver: Quais foram as apresentações que mais marcaram vocês?
Thiago e: Agora pegou. “São tantas emoções... (risos)”
Quaresma: Eu acho que a gravação do DVD do Cumbuca Cultural, foi uma das que mais marcou, não sei se foi a mais, porque tem uma variação. Eu gostei muito!
Thiago e: Foi ali no Noé Mendes, em 2007. Foi bom, porque tinha muita gente, tava lotado, muita gente cantando, dançando, pulando. Foi muito bom! Não teve confusão, não teve briga. Mas pra mim também foi muito bom, quando a gente tocou no Palco “Torquarto Neto”, lá no Piauí pop (2007). Também tinha muita gente, tava lotado e a gente cantando e a gente tocava no palco de atrações nacionais (que iam se apresentar depois da gente), mas a gente tocou no mesmo lugar. A gente foi naquela “península” que vai do palco até o meio do público, foi legal porque deu pra se divertir, que o palco também é diferente, a vista é diferente. “Novas e maravilhosas emoções” – pelo menos do ponto de vista platéia/palco... (risos).
Volver: E os shows fora do Piauí? Como foi a recepção do público?
Quaresma: A gente já tocou algumas vezes. Tocamos na “Nação Piauí”, que é uma feira organizada por piauienses que moram em Brasília, na semana passada.A recepção foi boa. Em Fortaleza, a gente teve uma resposta mais calorosa, a gente chegou pra tocar esse ano e já tinha até gente cantando as músicas do disco novo!
Thiago e: Muitas pessoas já conheciam.
Quaresma: Tinha um público que já tava acompanhando pela internet, principalmente. Em Brasília e São Paulo, apesar de não sermos tão conhecidos pelo público, mesmo assim foram ótimas experiências.
Volver: E as aberturas de shows de bandas de renome nacional, tipo: Os Paralamas do Sucesso, Caetano Veloso, Patrícia Melodi...
Quaresma: Eu gente não teve contato com absolutamente nenhum deles. Ah, lá no Teatro como tem uma proporção um pouco maior, nós cruzamos no corredor com o pessoal do “Bossa Cuca Nova”, com a Patrícia Melodi, com a Fernanda Porto. Mas acho que foi só... Agora quando é show aberto, a gente não tem muito contato. O legal mesmo é se apresentar pra o público daquele artista, em geral as pessoas vão pra ver o artista nacional...
Thiago e: A gente divide o mesmo palco, né? O mesmo palco que a atração nacional vai se apresentar daqui a pouco, a gente já tá tocando, então, mesmo a gente não tendo esse contato, o público pensa que por tocar no mesmo palco, lá atrás a gente á se falando, em contato. Não há isso, aliás, raramente há! No nosso caso, só aconteceu aqui no Teatro, no Atlantic City, não. No Mais Um, também não. Mas é legal que a gente se apresenta para o público daquele artista dividindo o palco e eles conhecem o nosso trabalho.
Volver: Vocês tocam músicas próprias, mas no novo CD, tem uma regravação: Eu preciso é de você,
Márcio Greyck. É a primeira regravação?
DSC_0106 Quaresma: É e é um dos poucos covers que a gente faz.
Thiago e: Agora não é mais tão pouco, porque a gente pegou para o repertorio da banda.
Volver: Muitas pessoas até desconhecem que a música é do
Márcio Greyck e já atribuem a vocês.
Quaresma: Não, mas as pessoas têm que saber! Quem vai ao show, eu sempre digo: Viva, Márcio Greyck! Eu sempre falo isso no final. Mas é o legal é isso, pelo visto muita gente desconhecia a música, ai começa a gostar da música. Ai de repente vai ver “poxa, quem é Márcio Greyck?”.
Vai lá nos anos 70 e descobre uma obra grandiosa de músicas românticas.
Thiago e: A gente tocando algumas coisas, algumas músicas de cantores e autores que não são tão famosos para o público jovem. Que ele se acostuma a ouvir outras coisas, a gente traz alguns outros nomes.
Tom Zé, por exemplo, que é até conhecido nesse meio universitário, mas pouca gente no nordeste conhece principalmente aqui em Teresina. A gente toca, a de repente muitas pessoas curtem. André Abujamra, a gente também canta e sempre fala no palco. “essa música é do André Abujamra”. É legal, porque a gente fica com uma mini função didática, a gente inclui músicos que a gente acha interessante e dá a outras pessoas a oportunidade de saber da existência e ir atrás de conhecer. A mesma coisa com o Jorge Mautner da música superbonder, que no final, eu digo assim: “Maaaãe, quando eu crescer eu quero ser o Jorge Mautner. Ei, mãe...” Tinha gente que nunca tinha ouvido falar “Jorge Mautner, quem é Jorge Mautner?”
Quaresma: O Jorge esmalte? Haha
Thiago e: Ai ouve o nome, vai atrás e vê. Se não gostar, pelo menos conheceu outra coisa e tal. Mas é legal proporcionar essa difusão.
Volver: E o novo CD de vocês,
o Alegria Girar, como foi fazê-lo?
Quaresma: O projeto já existe, desde antes o lançamento do primeiro (Pelos Pátios Partidos em Festa), assim que a gente lançou, já tava começando a ser concebido, de fato. A gente já tinha repertorio pra dois discos e então pra fazer a escolha do repertorio pra o primeiro CD, a gente escolheu aquelas 13 músicas e ficaram algumas de fora. Ai na época a gente teve uma ideia e inscreveu o projeto na
lei A. Tito Filho, coloquei o nome “Alegria Girar”, que era uma música que não tinha entrado no primeiro disco. E ela acabou dando forma ou novo disco e acabou até casando a escolha e foram surgindo outras ideias, que vão resultar no terceiro disco. Pra gente completar a trilogia.
Thiago e: O “Alegria Girar” é massa também, porque a gente conseguiu participações especialíssimas. Como:
Ferreira Gullar, Lirinha, Isaac Bardavid, Zéu Britto... É uma coisa rara até aqui na cidade, a gente ver um disco com tantas participações de artistas nacionais, ai a gente jovem serelepe e cheio de energia, saiu atrás e conseguiu. É interessante, porque a gente troca informações com nomes nacionais, que já são consagrados e eles acharam o trabalho interessante. O Zéu Britto quando a gente encontrou com ele, ele confirmou que realmente vai gravar algumas músicas nossas, que é “barulho profundo”, para o próximo ano. Então, a gente fica feliz, né? Por essas pessoas mais velhas e experientes, vendo vantagem no nosso trabalho.
Volver: Vocês falaram na lei A. Tito Filho, quero saber se vocês recebem outros apoios culturais?
Quaresma: A gente só tem o incentivo da lei mesmo. Ainda há algum apoio quando a gente faz eventos, como festas, lançamentos de CD. Ai a gente consegue alguma publicidade, para anunciar... Fazer cobertura. A gente só tem apoio mesmo em relação a difusão e divulgação. A iniciativa privada ainda não vê os caminhos pra música seguir em parceria.
Volver: Todos vocês desenvolvem trabalhos a parte. Daria para viver só de música aqui?
Quaresma: Não, não. Ainda não, pelo estilo de música da gente. Aliás, nem sei se pra outros estilos da pra viver também.
Thiago e: Na verdade, eu acho que ninguém aqui no Piauí, vive de música autoral.
Quaresma: Não, autoral não dá!
Thiago e: Quem consegue viver de música, toca como freelancer , ai dá pra fazer uma quantidade maior de eventos. Mas aí só de música autoral mesmo, não dá! Até mesmo pela própria demanda dos bares. Os bares não dão tanto apoio assim, quer dizer, eles não dão quase apoio nenhum. “A gente conta nos lugares, os dedos que a gente toca”. Ops, a gente conta nos lugares os dedos que a gente toca. Não! A gente conta nos dedos os lugares que a gente toca. (risos)
Quaresma: Tá gravando? (RISOS)
Thiago e: É triste isso, viu? É triste – tristíssimo.
Volver: Vocês disseram que o mercado pra cover é bem mais amplo, vocês nunca pensaram em adentrar esse ramo?
Quaresma: Não, porque a gente ia desvirtuar da proposta inicial. A gente ia abrir uma brecha pra entrar no círculo vicioso.
Volver: E na produção do CD, composições, arranjos, como são divididas as tarefas?
Quaresma: Todos da banda participam ou participaram dos arranjos, para o próximo a gente já tem a composições de quase todos os integrantes. O Vazim é compositor, o Júnior também. Então, depende de quem vai trazendo músicas.
Thiago e: Nossa banda é muito democrática, todo mundo pode opinar. Quando dizem que a maioria das composições são minhas e do Quaresma, a gente não ta mandando em ninguém não. (risos) Se não apareceu de outros, é porque eles não tão apresentando. A gente sempre estimula: “bora fazer música pessoal!”. É um grupo, né? São muitas pessoas, é normal que alguns tomem mais a frente mesmo.


As editoras do blog Volver Notícias distribuiram a entrevista em duas postagens. Em uma delas, disponibilizaram vídeos com trechos da entrevista. Clique
aqui para acessá-los.

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