CADÊ?

novembro 05, 2008

Uma possível resposta a Chico Castro*


Caríssimo Chico Castro, meu amigo,

Abri o e-mail que você me enviou nesta manhã e me deparei com algumas verdades embutidas nele, que não tinha me dado conta ou, talvez, não tivesse coragem de postular por aqui ou em outros espaços.
Agradeço as deferências sobre o meu blog, primeiramente, o que me agradou bastante partindo de um amigo sincero ao longo dos anos, um intelectual estudioso, um pesquisador nato, um poeta que me deu o prazer na parceria do livreto As Pedras da Aurora na década de 80.
Mas voltando ao bojo do e-mail/carta percebo que você mexe em algumas feridas abertas sobre a nossa geração (não vou rotulá-la), incompreendida até hoje como agrupamento de renovação estético/semântica da literatura piauiense contemporânea.
Devo ainda concordar com você sobre a força do conto como espécie literária nesta geração esquecida e sem medo de errar, também, reconheço que os membros da Confraria Tarântula (Airton, João Luiz, Bezerra e Leonam) representam no cenário da contística brasileira atual o melhor do que se pode encontrar. Apesar da parca crítica literária que existe por aqui, ainda.
Não quero legislar em causa própria, mas a poesia deste agrupamento de literatura contemporânea piauiense, desta geração foi um tapa grande na cara de várias coisas por aqui, também. Fizemos parte disso como militante/autor e como codificador/impulsionador. A poesia sempre vai revolver como tem dito Wiliam Melo Soares, outro que continua resistindo, como nós. Ela precisa ser discutida, porque deu o tom da dissonância estético/semântico deste momento. Somos suspeitos de dizer isso, mas fazer o quê, né!
Por fim, meu querido amigo e irmão, quero te confessar que participei do primeiro Língua Viva seminário que deu origem ao SALIPI e naquele ano acreditei que este evento estaria sacudindo a cidade com a intensidade de dsicussões, propostas que apontassem caminhos para leitura, o ensino da língua, a literatura. A primeira experiência prometia isso. Contudo, ao longo dos anos, este espaço de discussão passou a ser uma sala de aula de cursinho massificada. E o que é pior, desarrumada e sem muito rumo. O que eu vi neste último, por exemplo, foi o tempo/espaço dado ao autor piauiense reduzido. Estive no auditório do Centro de Convenções ouvindo a fala do jornalista Washigton Novaes gerando uma sonolência desgraçada. Porém, Chico Castro, não se espante porque os discípulos são piores do que no passado. Ah, o SALIPI, hoje, também, sofre da oficialização, portanto, não está em nossa direção que fizemos sempre o oposto. Assim lá a não ser que mude de rota se abrirá algum túnel para a nossa geração. E graças a Deus por isso!
Deixo ainda para você aqui a certeza que precisamos abrir canais alternativos para que o Piauí possa conhecer na sua integralidade um grupo de jovens que propôs o diferente, o revolucionário em todas as esferas na busca de uma satisfação estética e plural. Fazemos parte dele e isso me alegra tremendamente.
Um abraço fraterno,

Emerson Araújo



* Postagem extraída do blog de Emerson Araújo, veiculada em outubro, 28. Essa postagem foi reproduzida, antes, no blog Kenard Kaverna: entre sem bater, sob o título Carta aberta de Emerson Araújo a Chico Castro, em outubro, 29, e no AirtonSampaioBlog, com o título Uma possível resposta a meu amigo Chico Castro, em outubro, 30.

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