CADÊ?

setembro 21, 2010

Mudou a Veja ou mudaram a esquerda e o PT?


Estou preocupado com o clima que os governistas criaram para defender limitações - e alguns, mais radicais, a fulminação - da liberdade de expressão. A minha preocupação acentuou-se quando Achilles, o Zé da Égua, um eremita rural, na noite de ontem, visitando-me, informou-me que, ao contrário de Kenard Kruel, estabelece-se em Teresina, "pelo menos até o fim das eleições", para combater a imprensa capitalista, que, criando factoides, calunia e julga um governo legitimamente eleito e a sua candidata, seguramente já eleita em outubro, 3. Pretende aliar-se aos blogueiros progressistas de que fala Emerson Araújo, aqueles que "desmontaram a farsa nazi-fascista da Folha e da Veja e próceres". Imaginei que a sua contribuição se restringiria a comentários em tais blogs. Se tanto, publicaria uma carta aberta, ou, quem sabe, encabeçaria um abaixo-assinado protestando contra a imprensa burguesa. Qual nada! Criará um blog, para repercutir matérias da imprensa de esquerda e daquela alinhada com o governo. Reproduzirá post de blogs de mesma tonalidade. Claro que também emitirá juízo seu.
Convidei-o ao escritório. Estava trabalhando quando chegou. Abri o site da Veja. Olhei-o. A repulsa era visível. Ameaçou sair. Pedi que tivesse paciência. Acessei o Acervo Digital do semanário. Passei anos. Parei em 1969.


Ali estava uma edição de dezembro. Matéria de capa, em pleno regime militar, tratava de torturas



Voltei no tempo. Novembro, 1968. Veja noticiava inquietações sobre o rumo do Brasil, depois da visita da rainha da Inglaterra. À época, cogita-se em decretação de estado de sítio.
Avancei.
 
Mostrei-lhe a matéria da edição de 1980, março.



A de 1985, janeiro.
Mas ele me disse que "aí a Veja se afastou da revolução militar porque irreversível o processo conduzido pelo povo brasileiro".
Mostrei-lhe mais alguns exemplares de Veja, com matérias de denúncias




no governo Sarney,




no governo Collor,




no governo Itamar Franco,




e no governo Fernando Henrique Cardoso.
Por que não no governo de Lula, se algo errado ocorrer? Levantou-se, e disse "o que te aconteceu, amigo? A Veja é burguesa. Você está perdido, como perdido está o seu candidato". Falava com a paixão ensandecida de um torcedor do Flamengo. Aliás, parecia-lhe que a eleição era um jogo de futebol, em que, não importava se o gol fosse precedido por uma falta ou que se encontrava em impedimento, fundamental era que o seu time ganhasse. Meu Deus, imaginei, estou recorrendo ao estilo Lula!
"Vou-me. E espero que não se chateie com as minhas postagens, se você acessar o meu blog."
Oh, Achilles, mudou a Veja ou mudou o Partido dos Trabalhadores? Sem me olhar, levantou o braço e, com a mão fechada, fez rijo o dedo médio, abrindo a porta. Nem me permitiu dizer que tenho uma candidata verde como a esperança. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Aqui, diferente da marchinha de Madame Zoraide, recordar não é viver.

M. de Moura Filho disse...

Deveras, aqui, recordar não é viver. É História. Como História se extrai de matérias veiculadas durante o governo federal petista.