Por Antônio Gois
Susana Machado e Arnaldo Jaña estão há 15 anos juntos e aprenderam a lidar com uma situação que, para muitos homens, causaria bastante incômodo: é dela a maior renda do domicílio e é ele que, por ter mais flexibilidade para trabalhar em casa, assume boa parte dos afazeres domésticos.
"Somos de uma geração em que o que se esperava do homem era ser o provedor. Mas tenho muito a agradecer ao Arnaldo: pelo meu sucesso profissional, por ter ficado mais tempo em casa, ajudando na educação de meu filho, e em outras tarefas. Ele sempre me apoiou e me ajudou a chegar onde cheguei", diz Susana, 49, servidora da Justiça Federal.
Casos em que a renda da mulher supera a do homem no domicílio ainda são minoritários, mas, nos últimos 25 anos, eles mais que dobraram, como mostra uma conta feita pela pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ana Amélia Camarano, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De 1982 a 2007, cresceu de 3% para 11% a proporção de lares onde a renda da mulher superava a dos companheiros. Se forem somados também os domicílios onde a mulher mantém um lar sem cônjuge, o percentual de casas onde elas eram as principais ou únicas provedoras mais do que dobrou, variando de 13% para 30%.
Avanço feminino
Outro dado que demonstra o avanço feminino é a constatação de que a contribuição das mulheres para a renda total das famílias no Brasil já chega a 40%. Em 1982, essa proporção era de 23%.
Essas contas fazem parte de um estudo que Ana Amélia está elaborando sobre os desafios das políticas de aposentadoria para mulheres diante dos novos arranjos familiares na sociedade brasileira.
"No passado, uma das principais preocupações da mulher ao casar era achar um marido que tivesse condições de sustentá-la. Mas, a partir do momento em que a participação feminina no mercado de trabalho cresce, isso deixa de ser essencial e cresce a proporção das que se casam com um marido de renda menor", afirma a pesquisadora.
Ela explica que esse movimento aconteceu principalmente por causa da melhoria da escolaridade feminina e da redução nas taxas de fecundidade. Hoje, o IBGE já mostra que a escolaridade das mulheres entre 20 e 59 anos supera a dos homens. Em 1982, a situação era inversa.
Sobrecarga
Se a participação da mulher no mercado de trabalho se alterou bastante nos últimos anos, o mesmo não pode ser dito da divisão das tarefas domésticas. Mesmo em residências onde tanto o homem quanto a mulher são ocupados, a maior parte dos afazeres de casa continua sendo feito por elas.
Em 2007, 90% das mulheres ocupadas diziam também cuidar de afazeres domésticos. Entre homens, o percentual era de apenas 50%. Elas também dedicavam, em média, mais que o dobro de horas semanais a essas atividades em relação aos cônjuges: 22,2 horas, ante 9,6 dos homens.
A divisão desigual das tarefas domésticas é realidade comum mesmo em casos onde a mulher possui rendimento maior do que o homem.
É o que acontece com Daniele Fernandes, 30. De origem humilde, ela completou o curso de ciências sociais e hoje ganha, como pesquisadora-bolsista, uma renda maior do que a de seu marido, que é pedreiro.
Daniele conta que seu marido, ao contrário de outros namorados que teve antes do relacionamento atual, aceita bem o fato de ela ganhar mais. Porém, quando se trata de cuidar da casa, é dela a responsabilidade.
"Mesmo hoje em dia, a ideia predominante é de que os afazeres domésticos são de responsabilidade da mulher. Meu marido até ajuda se eu pedir, mas sou eu quem tenho que me preocupar sobre o que vamos comer ou como vamos cuidar dos filhos", diz ela.
Nesse ponto, melhor sorte tem Susana Machado, a servidora federal que é casada com Arnaldo Jaña.
"Como eu trabalho com edição de filmagens, tenho horário mais flexível e fico mais tempo em casa. Não tenho nenhum problema em levar o filho [do primeiro casamento] da Susana na escola ou lavar a louça e varrer a casa. Sei que ainda há muito machismo, mas acho que a mulher está conquistando sua independência e o homem que não se adaptar a essa nova realidade terá que segurar sua onda", diz Arnaldo.
"Somos de uma geração em que o que se esperava do homem era ser o provedor. Mas tenho muito a agradecer ao Arnaldo: pelo meu sucesso profissional, por ter ficado mais tempo em casa, ajudando na educação de meu filho, e em outras tarefas. Ele sempre me apoiou e me ajudou a chegar onde cheguei", diz Susana, 49, servidora da Justiça Federal.
Casos em que a renda da mulher supera a do homem no domicílio ainda são minoritários, mas, nos últimos 25 anos, eles mais que dobraram, como mostra uma conta feita pela pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Ana Amélia Camarano, a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
De 1982 a 2007, cresceu de 3% para 11% a proporção de lares onde a renda da mulher superava a dos companheiros. Se forem somados também os domicílios onde a mulher mantém um lar sem cônjuge, o percentual de casas onde elas eram as principais ou únicas provedoras mais do que dobrou, variando de 13% para 30%.
Avanço feminino
Outro dado que demonstra o avanço feminino é a constatação de que a contribuição das mulheres para a renda total das famílias no Brasil já chega a 40%. Em 1982, essa proporção era de 23%.
Essas contas fazem parte de um estudo que Ana Amélia está elaborando sobre os desafios das políticas de aposentadoria para mulheres diante dos novos arranjos familiares na sociedade brasileira.
"No passado, uma das principais preocupações da mulher ao casar era achar um marido que tivesse condições de sustentá-la. Mas, a partir do momento em que a participação feminina no mercado de trabalho cresce, isso deixa de ser essencial e cresce a proporção das que se casam com um marido de renda menor", afirma a pesquisadora.
Ela explica que esse movimento aconteceu principalmente por causa da melhoria da escolaridade feminina e da redução nas taxas de fecundidade. Hoje, o IBGE já mostra que a escolaridade das mulheres entre 20 e 59 anos supera a dos homens. Em 1982, a situação era inversa.
Sobrecarga
Se a participação da mulher no mercado de trabalho se alterou bastante nos últimos anos, o mesmo não pode ser dito da divisão das tarefas domésticas. Mesmo em residências onde tanto o homem quanto a mulher são ocupados, a maior parte dos afazeres de casa continua sendo feito por elas.
Em 2007, 90% das mulheres ocupadas diziam também cuidar de afazeres domésticos. Entre homens, o percentual era de apenas 50%. Elas também dedicavam, em média, mais que o dobro de horas semanais a essas atividades em relação aos cônjuges: 22,2 horas, ante 9,6 dos homens.
A divisão desigual das tarefas domésticas é realidade comum mesmo em casos onde a mulher possui rendimento maior do que o homem.
É o que acontece com Daniele Fernandes, 30. De origem humilde, ela completou o curso de ciências sociais e hoje ganha, como pesquisadora-bolsista, uma renda maior do que a de seu marido, que é pedreiro.
Daniele conta que seu marido, ao contrário de outros namorados que teve antes do relacionamento atual, aceita bem o fato de ela ganhar mais. Porém, quando se trata de cuidar da casa, é dela a responsabilidade.
"Mesmo hoje em dia, a ideia predominante é de que os afazeres domésticos são de responsabilidade da mulher. Meu marido até ajuda se eu pedir, mas sou eu quem tenho que me preocupar sobre o que vamos comer ou como vamos cuidar dos filhos", diz ela.
Nesse ponto, melhor sorte tem Susana Machado, a servidora federal que é casada com Arnaldo Jaña.
"Como eu trabalho com edição de filmagens, tenho horário mais flexível e fico mais tempo em casa. Não tenho nenhum problema em levar o filho [do primeiro casamento] da Susana na escola ou lavar a louça e varrer a casa. Sei que ainda há muito machismo, mas acho que a mulher está conquistando sua independência e o homem que não se adaptar a essa nova realidade terá que segurar sua onda", diz Arnaldo.
* Matéria veiculada hoje pelo Folha de São Paulo.
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