Por Airton Sampaio
Admito que por longo tempo utilizei, equivocadamente, as denominações Literatura Brasileira de Expressão Piauiense e Geração Pós-69. Hoje tenho como adequadas as nominações GERAÇÃO DE 1970, esta assim corretamente chamada por José Pereira Bezerra e Adrião Neto, e LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORES PIAUIENSES, esta acertadamente assim designada no currículo do Curso de Letras da Universidade Federal do Piauí. É que enfim me dei conta da impossibilidade de definir-se o que seja “expressão piauiense” (livros como o interessante Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês, de Paulo José Cunha, podem até ser alardeados nesse sentido, jamais porém servirão a isso) e, ao contrário, consciência também tomei da plausabilidade de se dizer, de modo não raro objetivo, o que é um Autor Piauiense (o que, no caso de naturalidade, por exemplo, é de uma obviedade ululante).
((A denominação Geração Pós-69 só tinha algum significado para se dizer, ainda que não adequadamente, de um conjunto de atores culturais impactados principalmente por dois profundos eventos históricos: a chegada do homem à Lua, em 20 de julho de 1968, responsável pela mudança de muitos paradigmas, e a edição, pelo governo militar, do AI-5, em 13 de dezembro do mesmo ano, início formal, que fato já o era, da hiper-repressão política no Brasil, consolidadora da escuridão democrática que desde 1964 grassava neste ainda hoje “país do futuro”. No entanto, como uma crítica ácida que foi, no plano estético, do academicismo, na dimensão comportamental, da caretice, e na esfera política, de todos os governos, a Geração Pós-69 só poderia ainda assim ser chamada, com certa condescendência, em razão de sua fundamental atitude comportamental freqüentemente anárquica, de sua histórica contestação às Academias de Letras (no Piauí, Alcenor Candeira Filho desferiu-lhe um covarde primeiro golpe ao entrar para a APL, deslumbrado com a “imortalidade” por ela “conferida”) e às suas diatribes à ditadura militar e demais governos civis a ela sucedâneos (Sarney, Itamar, Collor, FHC) se não tivesse caído, como vergonhosamente caiu (eis o segundo não menos covarde golpe), nos braços nada éticos e pouco realizadores dos governos do PT de Lula lá e W. Dias cá, cujos projetos de perpetuação no poder, a fim de exercer o poder pelo poder, baseiam-se em ações eleitoreiro-assistencialistas (Fome Zero, Bolsa-Família, etc) raivosamente atacadas pelo petismo quando pelos outros praticadas.))
Literatura Brasileira de Autores Piauienses? Ora, LITERATURA BRASILEIRA DE AUTORES PIAUIENSES é um conjunto assistêmico (no plano local, as estéticas clássica, barroca e árcade, no século 19) e sistêmico (idem, as estéticas romântica, realista/naturalista/ parnasiana e simbolista, nos séculos 19 e 20, pré-modernista e modernista, no 20 e 21, e pós-moderna, no 21) de obras eminentemente literárias cujos autores exibem o(s) vínculo(s) de NATURALIDADE (por exemplo, Permínio Asfora, que nasceu aqui porém se radicou na Paraíba e em Pernambuco, Mario Faustino, no Pará e Rio de Janeiro, Esdras do Nascimento, no Rio de Janeiro, etc), Não-naturalidade mas MILITÂNCIA LITERÁRIA NO PIAUÍ (casos de Hardi Filho, um cearense, Rubervam du Nascimento, um maranhense, Jamerson Lemos, um pernambucano, etc) e Não-naturalidade e não-militância literária mas EMPATIA TEMÁTICA COMO O PIAUÍ (caso de Odylo Costa, filho,um maranhense --- vide “Histórias da Beira do Rio”). Daí que a tradicional nominação Literatura Piauiense, apesar da vantagem da síntese, traz o grande demérito de descontextualizar a literatura feita no ou para o Piauí da Literatura brasileira, de que é, na verdade, uma de suas manifestações específicas, devendo, pois, ter seu uso questionado.
Destarte, qualquer que seja o autor de obra eminentemente literária --- assim considerada aquela que se caracteriza pela predominância da FICCIONALIDADE e ESTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM --- que cumpra o vínculo de Naturalidade ou, mesmo não o cumprindo, faça-o em relação a um ou outro dos demais (Não-naturalidade mas Militância Literária no Piauí ou Não-naturalidade e não militância literária mas Empatia Temática com o Piauí), integra o que se pode singularmente denominar Literatura Brasileira de Autores Piauienses. Como se vê, apenas o terceiro vínculo padece de maior subjetividade avaliativa, o que não se dá com o primeiro, totalmente objetivo, nem com o segundo, pouco subjetivo.
Até!
* Artigo publicado no Diário do Povo, caderno Galeria, seção Cultura, pág. 18, da edição de 2007, março, 15, e veiculado no site Usina de Letras.
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