CADÊ?

fevereiro 22, 2011

A educação no Piauí


O senador Cristovam Buarque apresentou projeto de lei em que propõe a obrigatoriedade dos agentes públicos eleitos matricularem seus filhos, e demais dependentes, em escolas públicas até 2014.  É identificado como PLS n.º 480, de 2007. Aguarda, até hoje, a designação de relator. O texto proposto é econômico:
Art. 1º Os agentes públicos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo federais, estaduais, municipais e do Distrito Federal são obrigados a matricular seus filhos e demais dependentes em escolas públicas de educação básica.
Art. 2º Esta Lei deverá estar em vigor em todo o Brasil até, no máximo, 1º de janeiro de 2014.
Parágrafo Único. As Câmaras de Vereadores e Assembléias Legislativas Estaduais poderão antecipar este prazo para suas unidades respectivas.
Justifica o senador a propositura com o óbvio: os filhos dos políticos estudam em escolas privadas, evidenciando a má qualidade da escola pública e o descaso dos dirigentes em qualificar o ensino público.
Seria um projeto esdrúxulo em um país sério. Aqui, no entanto, é tão pertinente quanto a certeza de que o projeto de lei estará fadado ao arquivo. O tratamento dado à educação no Estado do Piauí, e que não difere tanto dos demais Estados federados, justifica a iniciativa do senador Cristovam Buarque.
O Portal 180 Graus, em reportagem restrita à Teresina, mostrou a situação calamitosa vivida pelas escolas públicas. Vale a reprodução, ainda que longo fique o post:
Não precisa andar muito para encontrar retratos do descaso na educação pública estadual do Piauí. O 180graus foi até as escolas para saber como anda a situação de infraestrutura dos prédios que recebem milhares de alunos todos os dias em Teresina. Escolas sucateadas, prédios antigos, falta de manutenção, problemas com repasse, etc., são alguns dos problemas que encontramos em pouco mais de duas horas andando pela capital e que fizeram com que mais de 30 mil professores da rede pública cruzassem os braços no início da semana.
Com prédios de até 98 anos, a estrutura física de muitas escolas deixa a desejar. Muitas receberam reformas recentemente, mas os diretores afirmam que a maioria não passou de reparos superficiais. Algumas escolas tiveram o telhado trocado, receberam pintura, cadeiras, ar condicionados, ventiladores, atenção insuficiente diante da situação. A estrutura é questionada porque a Secretaria de Educação e a sociedade cobram dos professores um ensino de qualidade, mas os educadores alegam que não há um bom ensino se não há condições para se ensinar.
FALTA DE CELERIDADE E ESCOLAS 'SEM TETO'A estrutura antiga dos prédios começa a sinalizar sua precariedade não é de hoje. Já em 2011 o telhado da unidade escolar Cícero Portela, bairro Parque Piauí, cedeu no bloco onde funcionavam a sala de leitura e a biblioteca. Os professores afirmam que até agora apenas um levantamento sobre o problema foi feito, mas nada ainda foi solucionado. “Sem teto” também estão os alunos da Unidade Escolar Pedro Conde. Em setembro de 2010 a diretora da escola teve de mandar retirar o telhado do pátio sob a ameaça da estrutura cair a qualquer momento. Sem reparos e nenhuma previsão para a solução do problema até a manhã desta sexta-feira (18/02) os alunos tinham de aproveitar o recreio debaixo de sol forte.
Teto foi retirado para evitar desabamento
A falta de celeridade em solucionar os problemas não está só no pátio. Uma quadra está sendo construída nos fundos da escola há dois anos. O local só recebeu a presença dos operários por duas vezes. A primeira para receber a cobertura e as arquibancadas, e a segunda para que o piso fosse colocado. Com estrutura inacabada os alunos ficam impossibilitados de praticarem atividades físicas. A reforma no prédio, segundo a diretora adjunta Glaucia Maria Barros, se arrasta há muito tempo. “Uma vez faz a pintura, na outra bota o piso, ajeita um reboco ali”, tudo muito devagar.
Lixo deixado pela obra ainda está na quadra inacabada
ESCOLAS COMPRAM MERENDA ‘FIADO’ POR FALTA DE REPASSEGlaucia Maria Barros, diretora adjunta do Pedro Conde, localizado no bairro Mocambinho, afirmou à reportagem do 180graus que o repasse da merenda escolar ainda não foi repassado este ano. Como a escola não aderiu integralmente à greve as aulas estão acontecendo no período da manhã, e para impedir que os alunos ficassem com fome a diretora teve de comprar os produtos da merenda de graça, e como ela afirma, “na esperança de que um dia o dinheiro entra e a gente paga”. A manutenção do prédio também não está em dia, sem repasses, a capina da área externa não pode ser feita, e com o período intenso de chuvas na capital o mato cresce rápido atraindo mosquitos e servindo até de esconderijos para bandidos.

Acesso para a quadra está tomada pelo mato que cresce rápido
MESMO SEM GREVE, AULAS NÃO COMEÇARIAM POR FALTA DE CADEIRASNa unidade Escolar Firmino Sobrinho, zona Norte, a idade do prédio chama a atenção. Com 98 anos, o lugar ‘clama’ por uma reforma urgente. O muro da escola é uma das maiores preocupações. Feito de tijolo de barro, o muro ameaça desabar a qualquer momento, uma parte já chegou a cair ano passado, mas diretores fizeram um esforço e o muro foi reconstruído. A falta de cadeiras é outro problema que a escola enfrenta. A diretora adjunta Alaine Pinheiro conta que mesmo se não houvesse greve as aulas não poderiam começar, já que não há cadeiras suficientes para comportar os alunos. “Ano passado recebemos 115 cadeiras, mas foi como se não tivéssemos recebido. As que vieram são de material de péssima qualidade, muitas quebraram logo na primeira semana, assim que o aluno sentava as pernas da cadeira ‘arriavam’”, conta. O laboratório de informática é uma promessa sem previsão para ser cumprida, ainda na gestão passada a SEDUC prometeu novos computadores para a escola. Até agora tudo continua parado e com uma nova promessa que sejam entregues em março, mas a diretora questiona: "Se não veio até hoje, vai vir agora? Não acredito nisso".

Cadeiras quebradas são amontoadas nos corredores
SEM ESTRUTURA, ALUNOS NÃO TÊM CONCENTRAÇÃOOs ventiladores também são motivos de dor de cabeça na escola. A diretora afirmou ao 180graus que em 2010 parte do dinheiro da manutenção foi usado para concertar ventiladores. Sem qualidade, os comprados pelo governo do estado não duravam muito tempo e logo quebravam. “No período do B – R – O - Bró os alunos sofrem bastante, ficam saindo toda hora da sala, o bebedor só tem água quente, a sala não tem ar condicionado, com um ambiente assim não tem como o aluno se concentrar para apreender alguma coisa na aula de matemática por exemplo. Como é que querem que os alunos sejam aprovados se não o estado não dá condição para isso", indaga.

Com o forro prestes a cair, sala teve de ser isolada no Firmino Sobreira
JOVENS MERENDAM SENTADOS NO CHÃOO problema da merenda também é visível em algumas escolas. Também na unidade Firmino Sobreira, no Poti Velho, ao perguntarmos para a diretora sobre a existência do refeitório, sem graça ela reponde que “nosso refeitório é como se não existisse, sem mesa e cadeira como pode ser um refeitório, nossos alunos comem sentado no chão”. A diretora Alaine conta que muitos lancham de pé e alguns sentados no chão, no batente das portas por falta de cadeiras e mesas no local. Ano passado atraso no repasse de verbas deixou a escola por uma semana sem merenda. As vidraças das janelas do refeitório estão todas quebradas e o pátio que fica ao lado, seve para amontoar cadeiras quebradas, cena que se repete em vários outros locais da escola.
DIRETORA É QUE FAZ A MERENDASer diretor de escola pública exige um tanto a mais de esforço. Na Unidade Escolar Álvaro Ferreira, bairro Piçarra, sem cozinheira, a diretora é quem faz o papel de ‘chefe de cozinha’, isso quando tem material para cozinhar. Uma das professoras da unidade lamenta a situação, já que muitos alunos, a maioria de baixa renda, vão para a escola em busca de comida, e não só do ensino. Quem chega na escola se depara com um prédio antigo, aparentemente abandonado, com lixo por todos os lados e portas que não possuem sequer trancas. Os forros das salas ameaçam cair a qualquer momento. Em uma delas foi usado papel ofício para tapar o buraco. O prédio construído em 1966 passou pela última grande reforma em 2000, mas ainda conserva as velhas tenhas de amianto, que ano passado causaram um acidente na biblioteca da escola, onde parte do teto cedeu.

Pátio da escola parede de prédio abandonado
A GREVE DOS PROFESSORESSem resposta do governo e nenhuma previsão de acordo, estes são alguns dos motivos que causam a paralisação dos professores da rede estadual do Piauí. Eles ainda reivindicam o cumprimento de uma lei nacional que estabelece o piso da categoria em R$ 1.597,00. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Piauí querem ainda a elaboração de uma tabela que estabeleça um percentual fixo da graduação na carreira do professor. Nesta segunda-feira (21/02) uma assembléia geral definirá os rumos da paralisação no estado, que já tem mais de 90% de adesão da categoria.
EDUCAÇÃO DO PIAUÍ EM NÚMEROSDe acordo com o site do "Todos pela Educação", que retrada os dados da educação no Brasil, com uma população de 3.119.015 (população de 2010) o Piauí tinha em 2007 cerca de 843.600 alunos em idade escolar. A taxa de analfabetismo entre 10 a 14 anos corresponde a 6,2 %, com 15 ou mais o número sobre para 23,4 % baseado em números do PNAD/IBGE - 2009, que neste mesmo ano aprontava que 25,5% dos alunos entre 10 e 14 anos tinham mais de 2 anos com atraso escolar. Clicando aqui você pode ver todos estes dados e ainda mais números que mostram a real situação da educação no Brasi.
VEJA MAIS FOTOS DA SITUAÇÃO DAS ESCOLAS EM TERESINA

Prédios velhos recebem centenas de estudantes

Telhado caiu com a chuva e o forro cedeu

Sem manutenção, computadores ficam subutilizados

Papel e fita foram usados para cobrir buraco no forro

Sem repasse, capina da escola Pedro Conde ainda não foi feita

Grades retorcidas no pátio ameaçam segurança dos alunos

Diretora mostra o muro que pode cair a qualquer momento

Vidraças quebradas e salas sem ventiladores são desconforto para os alunos
É vergonhosa o tratamento que a esquerda dá à educação, e sem autoridade está de coibir a ação do Sindicato dos Trabalhadores em Educação.
Fonte: 180 Graus. Apertando no link você lerá, além da matéria reproduzida, outras pertinentes à educação.

Um comentário:

EMERSON ARAÚJO disse...

Esta situação é de matar de vergonha a todos nós. O problema é que ninguém cobra responsabilidades civis/penais aos calhordas que geriram a educação no Piauí/Brasil nestes últimos anos. E não me venham com este papo de dizer que a educação do Piauí e do Brasil cai aos pedaços é por falta de grana. Os bilhões do FUNDEB foram parar onde mesmo? Nós, professores, somos coniventes com isso, também, porque aceitamos, não denunciamos mais este absurdo contra o dinheiro público, contra a vergonha pública que os calhordas de plantão jogaram no lixo e nos seus próprios bolsos com falcatruas. A justiça, também, é responsável por não cobrar responsabilidades contra quem é de direito. Por onde a investigação sobre os desvios de verba do FUNDEB envolvendo um tal Instituto Civitas ai no Piauí? Volto mais não, meu amigo!