CADÊ?

setembro 04, 2008

Caricatura não é folclore

Cheguei agora em casa. Corri aos blogs e aos sites que visito. 
Puta que o pariu!!! A sociedade mudou. Os meios de comunicação mudaram. Agora, com um simples blog, alcançam-se leitores nunca dantes imaginado.
Então, porra, algumas constatações:
a) não sou um bom sujeito, uma vez que não gosto de samba. Aliás, odeio carnaval.
b) era eu, até há pouco tempo, um potencial assassino, porque, veja você, deliciava-me com um jogo de violência, e soube que a diferença entre o matador virtual e o real é tênue. Recomendam os especialistas, neste caso, a literatura. Por isso, tenho lido Sabrina, pois a boa literatura, inclusive a clássica, está recheada de violências.
c) eu, que achava, como o Cineas Santos, que não precisava de um título de cidadão teresinense, porque já me considerava como tal; eu, que nasci em Floriano, a Princesa do Sul, descubro agora que não sou sequer piauiense. Afinal,
i)  não vejo o Rio Parnaíba como um riozão, e o que mais é natural nele é a sua esqualidez;
ii) nunca vi o Cabeça de Cuia, ainda que em noite de lua cheia - a versão folclórica deste peste é, hoje, idiota: necessário conhecer a leitura deste cretino por J. L. Rocha do Nascimento, em Heptagrama, publicado no Confraria Tarântula;
iii) mestre Dezinho nunca será melhor do que Picasso
iv) nunca tomei banho nu na Cachoeira do Urubu; 
v) não vejo sentido em trocar o Delta do Parnaíba pelo Pantanal do Mato Grosso, ou vice-versa, uma vez que, dizem os estudiosos, a maior parte do Delta está no Maranhão;
vi) nunca sonhei com o Albertão lotado, para ver os dois Flamengos, o de Teresina e o do Rio, na final da Libertadores, e o do Piauí ganhar - torcer pelo Flamengo, qualquer que seja ele, além de não significar ser piauiense, representa, estou convencido, gosto duvidoso;
vii) nunca fui freguês de caderneta do cabaré da Bete Cuscuz;
viii) não consigo morrer de rir com as histórias do João Cláudio;
ix) nunca trepei com uma cunhã na beira da Lagoa do Portinho; e
x) nunca achei o capote da Dalva mais gostoso do que faisão dourado - o capote de Chico Nunes, de Campo Maior, é muito melhor. Mas isto quer dizer apenas que tenho paladar.
Quase me convenci de que não era mesmo piauiense. Mas aí vi que todos os axiomas, negados por mim nesta postagem, serviram de suporte apenas para a exclamação de a Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês, do Paulo José Cunha, que tem sido comparado, meu Deus, a Câmara Cascudo, a Mário de Andrade, a Leonardo Motaa Fontes Ibiapina, invocados como mestres do folclore brasileiro. Exageros à parte em seu conjunto, Paulo José Cunha talvez se compare a Fontes Ibiapina, folclórico em si mesmo no fazer literário, por seu Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês
O certo, ao meu juízo, é que Paulo José Cunha, com o seu Grande Enciclopédia Internacional de Piauiês, para ficar em sua família, segue trilha inteiramente diversa da de Torquato Neto, cosmopolita, sem desprezar as suas raízes. E não se deve esquecer que estamos no século XXI.
Tá, admito. É possível que o meu mau humor reflita sobre a minha opinião nesta postagem. Mas, talvez, não.

2 comentários:

Adriano Lobão Aragão disse...

"E não se deve esquecer que estamos no século XXI." Essa sua frase diz tudo. Não é com umbigismo que este Estado se desenvolverá, mas aceitando em sua concretude, e não com devaneios folclóricos.

No tocante ao "Piauiês - o livro", já dei meu recado em resenha de 2002, onde elogiei em seus devidos aspectos, uma obra de entretenimento apenas, e divertida justamente e somente por isso: "Só não precisava daquela cambada de prefácios e comentários no início e no final da obra, como se fosse um atestado de garantia ou coisa parecida. Trata-se apenas de uma leitura sem maiores compromissos, boa para apurar olhos e ouvidos." E só. O que ao meu ver já é um grande elogio, talvez até exagerado.

E nem sei se o Paulo José Cunha está preocupado com essas questões e pretensões. Até acho que não.

Uma postagem instigante e necessária a sua, como seus contos e o Heptagrama do J.L. ora divulgado. Sempre tive aversão pelo "cabeça-de-cuísmo" que leva muitos a confundir os galhos de uma árvore com a floresta inteira por não querer olhar para os lados, muito menos para cima.

Enfim, "não se deve esquecer que estamos no século XXI."

Abraço
Adriano

EMERSON ARAÚJO disse...

Leonam o grave problema desta enciclopédia e deste João Cláudio e destes pretensos ícones do Piauí que se postam por aí todos os dias, não é ser do Piauí não, é ser sem funções, smm nada, rapaz. Quanto ao século 21 que seja "Aba Pai, Piauí" mas de coisas boas e com funções inúmeras igual a Bombril. Sou mais ouvir Roberto Muller e me lembrar do tempo de criança lá em Picos. Existe coisa melhor do que isso nestes rincões, não, não, não e não.