Por Reinaldo Azevedo Nunca aconteceu, mas desta vez vai: vou ter de citar a minha mãe. Daqui a pouco. Vocês viram, não é? Nada menos de 81% dos brasileiros apóiam as leis contra o fumo — que, não raro, são leis contra fumantes. E 77% condenaram uma frase de Lula que disse fazer, no que concerne ao cigarro, o que bem entender em sua sala. Além do Corinthians, partilho com ele um outro gosto, confesso: cigarrilhas holandesas Café Creme. Prefiro a “Arôme”, antiga “Oriental”. Fiquem longe. Faz mal para a saúde. Já escrevi aqui o que penso, vocês se lembram. O estado não pode me obrigar a me proteger de mim mesmo. A Lei proposta pelo governador José Serra, em São Paulo, que conta com o apoio da esmagadora maioria, é autoritária — ainda que o propósito seja bom. Até que ponto a saúde pode violar direitos individuais? Há casos — pandemias, por exemplo — em que isso é aceitável. O cigarro não cabe no exemplo. J.R. Guzzo escreveu um ótimo artigo a respeito na VEJA desta semana (clique aqui). E aborda o que já classifiquei aqui de um dos estratagemas para vencer um debate mesmo sem ter razão: recorrer a números. Os fumantes seriam um peso e tanto para o sistema de Saúde: custariam R$ 340 milhões por ano ao SUS. Só a Souza Cruz, lembra Guzzo, recolheu aos cofres públicos mais de US$ 3 bilhões em 2007. Se a brincadeira é números, então a gente dá lucro... Mas o papo é outro: trata-se de tolerância. E as massas podem ficar intolerantes também, como revela a pesquisa. E, se me permitem, darei um pequeno puxão de orelha no título que a Folhadeu para o texto que trata da fala de Lula: “77% condenam declarações de Lula a favor do cigarro”. Esta errado: Lula não deu declaração nenhuma a favor do cigarro. Afirmou que, na sala dele, mandava ele: “Eu, se for na sua sala, certamente não fumarei, porque respeito o dono da sala. Mas, na minha, sou eu que mando." Eu sou contra que órgãos do governo, por exemplo, xeretem conversas alheias. Mas sou favorável a que um presidente mande na sua sala. E a frase da minha mãe? Vamos lá. Ela nunca se conformou com o fato de eu fumar — e, confesso, levei algumas sovas por causa disso quando moleque. Não se conforma até hoje. Ela me ouviu dizer que Lula está certo nessa história do cigarro. Não perdoou: — No que não presta, você apóia o Lula! — Tá bom, mãe, diz o que presta para eu apoiar também. — Eu não sei, mas fumar não presta! Concordo com ela. Mas rejeito práticas autoritárias. Ainda que endossadas por 81%, 91% ou 100% da população. Será sempre 100% menos um: quase nada na representação numérica, mas ainda e sempre o mais importante para mim. * Extraído do blog de Reinaldo Azevedo. |
CADÊ?
setembro 15, 2008
O cigarro, Lula e eu*
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