José Pereira Bezerra, Wellington Soares, João Pinto, Airton Sampaio, Leonam, João Luiz Rocha do Nascimento e Austregésilo de Brito Silva, quando do lançamento do livro Geração de 1970 no Piauí: contos antológicos, às 19 horas do dia 25 de janeiro de 2008 , no Clube dos Diários.
Mantive, durante mais ou menos três anos, inúmeras conversas de trabalho com o poeta Paulo Machado, interrompidas pelos sortilégios que se abateram sobre minha vida, as quais tinham como objetivo a elaboração de um livro didático, com título não definido, que trataria de uma periodização o mais possível rigorosa da Literatura Brasileira de Autores Piauienses (LBAP). Chegamos então, ao cotejar as diversas periodizações já propostas, à solar conclusão de que todas, sem sequer uma exceção, se caracterizam pela falta do rigor metodológico indispensável a uma pesquisa, o que não raro resultou em ultrassubjetivismos arbitrários, permeados por imprecisões decorrentes de desleixos injustificáveis. Com efeito, de João Pinheiro a Luís Romero Lima, passando por Herculano Morais, Francisco Miguel de Moura e Adrião Neto, há, a despeito das inegáveis contribuições oferecidas, desde propostas esdrúxulas até categorias conceituais pessimamente laboradas de que, neste artigo, se darão alguns exemplos.
Por Airton Sampaio
Mantive, durante mais ou menos três anos, inúmeras conversas de trabalho com o poeta Paulo Machado, interrompidas pelos sortilégios que se abateram sobre minha vida, as quais tinham como objetivo a elaboração de um livro didático, com título não definido, que trataria de uma periodização o mais possível rigorosa da Literatura Brasileira de Autores Piauienses (LBAP). Chegamos então, ao cotejar as diversas periodizações já propostas, à solar conclusão de que todas, sem sequer uma exceção, se caracterizam pela falta do rigor metodológico indispensável a uma pesquisa, o que não raro resultou em ultrassubjetivismos arbitrários, permeados por imprecisões decorrentes de desleixos injustificáveis. Com efeito, de João Pinheiro a Luís Romero Lima, passando por Herculano Morais, Francisco Miguel de Moura e Adrião Neto, há, a despeito das inegáveis contribuições oferecidas, desde propostas esdrúxulas até categorias conceituais pessimamente laboradas de que, neste artigo, se darão alguns exemplos.
É o caso do uso, inadequadamente feito, da categoria vanguarda. Ora, não devia ser novidade para ninguém que esse termo, que vem do francês avant-garde (“postar-se à frente”), não pode ser utilizado para abrigar sob o seu apertadíssimo guarda-chuva qualquer artista, por melhor que ele seja, apenas a talante do gosto do historiógrafo, como se dá com Herculano Morais, Francisco Miguel de Moura e Luís Romero Lima, que chegam ao absurdo de categorizar como vanguardistas autores que nem Fontes Ibiapina, escritor tradicionalíssimo, e José Magalhães da Costa, seguidor estético-temático de Fontes e que de vanguardista também não tem nada, autor que é de uma contística regionalista excessivamente presa a ditos e causos e assim a anos-luz de uma literatura de ruptura estética com a tradição conservadora, que é isso que é, em síntese, uma arte de vanguarda, uma ruptura estética radical com o passado. Aliás, na LBAP o único artista que pode ser chamado de vanguardista, com o devido rigor que a palavra requer, é Torquato Neto, que nas diversas linguagens que praticou (literatura, cinema, jornalismo, etc) o fez sempre de maneira ruptorial e numa perspectiva experimental de radical renovação, o que não se pode dizer nem do genial Mario Faustino que, mesmo aberto às experimentações alheias (vide sua página Poesia-Experiência, no SDJB, 1956-1958), como a dos concretos, aos quais destemidamente apoiou, jungido no entanto ficou, conscientemente, ao verso (o “último verse-maker”, nas palavras de Augusto de Campos) e em geral verso clássico, que expressa uma mundividência oriunda da tradição greco-romana. Assis Brasil? Afora os peculiares romances “Beira Rio, Beira Vida”, “Os Que bebem como os Cães” e “Deus, o Sol, Shakespeare”, que de fato se aproximam de uma atitude de vanguarda porque são, em certa medida, inovadores e ruptoriais, exceto essas três obras as demais de Assis Brasil não devem ser, com a necessária precisão teórica, apodadas de vanguardistas.
Outro problema assaz presente na historiografia referente à LBAP é a confusão, fácil de ser desfeita mas insistentemente reiterada, que os historiógrafos piauienses difundem entre Geração literária e Grupo literário. Denominam, por exemplo, de Geração Meridiano e Geração Clip o que, na verdade, são Grupos literários: o GRUPO MERIDIANO, formado no âmago da Geração de 1945 (veja-se que o próprio Mario Faustino, que é da Geração de 1945, não integrou o GRUPO MERIDIANO, que contou com O G. Rego de Carvalho, H. Dobal, Vítor Gonçalves Neto, etc), e o GRUPO CLIP, constituído no interior da Geração de 1960 (veja-se que o próprio Torquato Neto, que é da Geração de 1960, muito longe esteve de integrar o GRUPO CLIP, que contou com Francisco Miguel de Moura, Herculano Morais, Hardi Filho, etc). Não há também, nesse sentido, na LBAP, uma Geração Acadêmica ou Áurea, mas a brilhantíssima Geração de 1900, na qual indubitavelmente se sobressaiu o seminal GRUPO ACADÊMICO (Lucídio Freitas, Clodoaldo Freitas, Baurélio Mangabeira, etc).
Não bastassem essas impropriedades todas, existem ainda os desleixos injustificados, muitas vezes estapafúrdios, entre os quais avulta a nominação errônea não de um escritor qualquer, mas do primeiro grande poeta do Piauí - LEONARDO DA SENHORA DAS DORES CASTELLO-BRANCO, que ele mesmo ASSIM assina, mas insistentemente grafado, inclusive pela festejada professora-doutora-pesquisadora Teresinha Queirós, como Leonardo de Nossa Senhora das Dores Castelo Branco, um erro talvez cometido em primeiro lugar por João Pinheiro e depois reproduzido por quase todos os que opinaram sobre a obra do autor do magnífico poema “A Creação Universal” sem, provavelmente, a terem sequer lido, já que nem o nome artístico do Poeta escrevem com correção. Ademais, ainda que relacionados e mesmo que o primeiro às vezes possa ser ao segundo igualado, por demais diferentes são fato estético e fato histórico, mas na historiografia da LBAP não é raro se deparar, por exemplo, com afirmações que incluem como fatos estéticos a fundação da Academia Piauiense de Letras, sem dúvida um fato apenas histórico, e que atribuem a um suposto diário de guerra de Fidié, também certamente não lido, o condão de texto iniciador da LBAP. Assim, meus caros, não dá... Até.
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Artigo Publicado no Jornal Diário do Povo do Piauí, caderno Galeria, seção Cultura. Teresina, 25 março de 2007, p.18.
* Postagem resgatada do blog de Kenard Kruel, publicada em fevereiro, 11, no momento em que se discute a regulamentação do artigo 226, da Constituição do Estado do Piauí de 1989.
* Postagem resgatada do blog de Kenard Kruel, publicada em fevereiro, 11, no momento em que se discute a regulamentação do artigo 226, da Constituição do Estado do Piauí de 1989.
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